Entre 1438 e
1440, o alemão Johann Gensfleish Gutenberg aperfeiçoou os tipos móveis criados
pelos chineses que foram os primeiros a imprimir livros. O sistema de prensa tipográfica criado por
Gutenberg, associado às possibilidades oferecidas pelo alfabeto romano,
composto de pouquíssimas letras quando comparado aos inúmeros ideogramas
chineses, não somente possibilitou a produção de livros em grande escala, como propiciou
o surgimento do jornal. Dava-se então o primeiro passo para a democratização da
escrita e, consequentemente, do saber, conforme ressalta Gontijo (idem, p. 167)
dizendo que “quando foi possível mecanizar esse processo através da prensa e
reproduzir em série, o livro tornou-se portátil e o saber extrapolou os limites
dos mosteiros, feudos e nações.”
O surgimento
do sistema tipográfico gutenberguiano é considerado a origem da comunicação de
massas por constituir o primeiro método viável de disseminação de ideias e
informações a partir de uma única fonte. Ao surgimento da imprensa Fernando Sá (2002,
orelha) ressalta um outro importante marco histórico. O aparecimento e difusão
da imprensa também estará diretamente vinculada ao desenvolvimento comercial e
industrial das principais cidades da Europa. É com a imprensa que a cultura sai
dos claustros e vai para as ruas, permitindo o surgimento do público leitor.
Quando uma parte importante desses leitores passa a se interessar pelas
publicações políticas e decide se envolver com os assuntos públicos, teremos
chegado ao nascimento do público político.
Porém, o
jornal não foi o primeiro produto a ser impresso por meio da tecnologia dos
tipos móveis. Antes, Gutenberg produziu cerca de 300 exemplares da Bíblia divididos
em dois volumes. O clero, que via na impressão uma ameaça ao seu domínio,
rendeu-se à tecnologia tipográfica e passou a utilizar o invento para imprimir
as indulgências, textos teológicos e manuais de instrução para a condução de inquisições,
aumentando a influência da Igreja. Bacelar, (2002, p.2) descreve como a produção
de textos foi fundamental para a quebra do papel da Igreja como guardiã da verdade
espiritual. Segundo ele cópias impressas das teses de Lutero foram rapidamente
divulgadas e distribuídas, desencadeando as discussões que viriam iniciar a
oposição à ideia do papel da Igreja como única guardiã da verdade
espiritual. Bíblias impressas em linguagem
vernáculas, em alternativa ao latim, alimentaram as asserções da Reforma
Protestante que questionavam a necessidade da Igreja para interpretar as Escrituras
— uma relação com Deus podia ser, pelo menos em teoria, direta e pessoal.
Além de
quebrar dogmas religiosos, Bacelar (idem, p. 4) ressalta a importância da imprensa
também como instrumento de revoluções. Veja-se como exemplo, o papel que a imprensa
desempenhou nas colónias inglesas da América, divulgando e defendendo as ideias
visionárias que deram forma à Revolução Americana ou, mais tarde ainda, o papel
que desempenhou nos aparelhos de agitação e propaganda para a disseminação das
ideais de todos os movimentos ideológicos revolucionários que, a partir do
século XIX, se propuseram transformar o mundo. A tecnologia
mecânica de Gutenberg automatizou o sistema de produção de textos e antecipou-se
ao que seria a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra em 1750. Assim, não
caracteriza exagero afirmar que a tipografia instituiu a tecnologia moderna de
comunicação, visto que, antes, o que tínhamos eram tecnologias primitivas
(tambor, berrante, fumaça) ou arcaicas (placa de barro, papiro, pergaminho).
A
associação mundial dos jornais aceita como verdadeira as evidências de que o
primeiro jornal do planeta tenha sido o Relationen, produzido por Johann
Carolus, em 1605. De acordo com o site
Observatório da Imprensa (2005), Carolus residia em Estrasburgo, que no século
XVII pertencia ao Império Alemão e hoje pertence à França. Os
descobridores do jornal, Martin Welker e Jean Pierre Kintz dão garantias de que
o periódico circulava em cópias manuscritas desde 1604. Afora isso, não é
incomum depararmos com textos que afirmam serem as Actas Diurnas publicadas em Roma desde 59 a.C a
origem do jornalismo.
O primeiro
jornal brasileiro foi o Correio Braziliense. Seu número inicial foi lançado em
1°de junho de 1808, por Hipólito José da Costa. Sua impressão era feita em
Londres, porque a Coroa Portuguesa proibia a existência de impressoras na
colônia. No mesmo ano, a família Real, que fugia das invasões napoleônicas,
chegou ao Brasil trazendo nos porões dos navios as máquinas que iriam dar
origem a Imprensa Régia, fazendo surgir o primeiro jornal impresso em território
brasileiro. A Gazeta do
Rio de Janeiro foi fundada em 10 de dezembro de 1808 e publicava documentos
oficiais e notícias de interesse da Corte, com linguagem bem parecida com os
atuais diários oficiais.
Nos anos seguintes foram surgindo outros periódicos,
mas com linguagens marcadamente agitadoras, que partiam especialmente de
Cipriano Barata e Frei Caneca. Desses, predominou o jornalismo panfletário da
imprensa que sobreviveu até metade do século XIX. Gontijo (idem, p. 285)
assegura que De início, os jornais demonstravam ter alguma consciência de que
parte da missão era educar o povo. No entanto, durante esse período turbulento,
o que se viu foi uma disputa radical, que fez surgir estilos vigorosos e
originais de redação jornalística, embora, muitas vezes, descambassem para
acusações infundadas e ataques pessoais.
Por João Batista Perles
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