quinta-feira, 21 de julho de 2016

Prensa, Tecnologia e Comunicação de Massa


Entre 1438 e 1440, o alemão Johann Gensfleish Gutenberg aperfeiçoou os tipos móveis criados pelos chineses que foram os primeiros a imprimir livros.  O sistema de prensa tipográfica criado por Gutenberg, associado às possibilidades oferecidas pelo alfabeto romano, composto de pouquíssimas letras quando comparado aos inúmeros ideogramas chineses, não somente possibilitou a produção de livros em grande escala, como propiciou o surgimento do jornal. Dava-se então o primeiro passo para a democratização da escrita e, consequentemente, do saber, conforme ressalta Gontijo (idem, p. 167) dizendo que “quando foi possível mecanizar esse processo através da prensa e reproduzir em série, o livro tornou-se portátil e o saber extrapolou os limites dos mosteiros, feudos e nações.”

O surgimento do sistema tipográfico gutenberguiano é considerado a origem da comunicação de massas por constituir o primeiro método viável de disseminação de ideias e informações a partir de uma única fonte. Ao surgimento da imprensa Fernando Sá (2002, orelha) ressalta um outro importante marco histórico. O aparecimento e difusão da imprensa também estará diretamente vinculada ao desenvolvimento comercial e industrial das principais cidades da Europa. É com a imprensa que a cultura sai dos claustros e vai para as ruas, permitindo o surgimento do público leitor. Quando uma parte importante desses leitores passa a se interessar pelas publicações políticas e decide se envolver com os assuntos públicos, teremos chegado ao nascimento do público político.

Porém, o jornal não foi o primeiro produto a ser impresso por meio da tecnologia dos tipos móveis. Antes, Gutenberg produziu cerca de 300 exemplares da Bíblia divididos em dois volumes. O clero, que via na impressão uma ameaça ao seu domínio, rendeu-se à tecnologia tipográfica e passou a utilizar o invento para imprimir as indulgências, textos teológicos e manuais de instrução para a condução de inquisições, aumentando a influência da Igreja. Bacelar, (2002, p.2) descreve como a produção de textos foi fundamental para a quebra do papel da Igreja como guardiã da verdade espiritual. Segundo ele cópias impressas das teses de Lutero foram rapidamente divulgadas e distribuídas, desencadeando as discussões que viriam iniciar a oposição à ideia do papel da Igreja como única guardiã da verdade espiritual.  Bíblias impressas em linguagem vernáculas, em alternativa ao latim, alimentaram as asserções da Reforma Protestante que questionavam a necessidade da Igreja para interpretar as Escrituras — uma relação com Deus podia ser, pelo menos em teoria, direta e pessoal.

Além de quebrar dogmas religiosos, Bacelar (idem, p. 4) ressalta a importância da imprensa também como instrumento de revoluções. Veja-se como exemplo, o papel que a imprensa desempenhou nas colónias inglesas da América, divulgando e defendendo as ideias visionárias que deram forma à Revolução Americana ou, mais tarde ainda, o papel que desempenhou nos aparelhos de agitação e propaganda para a disseminação das ideais de todos os movimentos ideológicos revolucionários que, a partir do século XIX, se propuseram transformar o mundo. A tecnologia mecânica de Gutenberg automatizou o sistema de produção de textos e antecipou-se ao que seria a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra em 1750. Assim, não caracteriza exagero afirmar que a tipografia instituiu a tecnologia moderna de comunicação, visto que, antes, o que tínhamos eram tecnologias primitivas (tambor, berrante, fumaça) ou arcaicas (placa de barro, papiro, pergaminho).

A associação mundial dos jornais aceita como verdadeira as evidências de que o primeiro jornal do planeta tenha sido o Relationen, produzido por Johann Carolus, em 1605.  De acordo com o site Observatório da Imprensa (2005), Carolus residia em Estrasburgo, que no século XVII pertencia ao Império Alemão e hoje pertence à França. Os descobridores do jornal, Martin Welker e Jean Pierre Kintz dão garantias de que o periódico circulava em cópias manuscritas desde 1604. Afora isso, não é incomum depararmos com textos que afirmam serem as Actas  Diurnas publicadas em Roma desde 59 a.C a origem do jornalismo.

O primeiro jornal brasileiro foi o Correio Braziliense. Seu número inicial foi lançado em 1°de junho de 1808, por Hipólito José da Costa. Sua impressão era feita em Londres, porque a Coroa Portuguesa proibia a existência de impressoras na colônia. No mesmo ano, a família Real, que fugia das invasões napoleônicas, chegou ao Brasil trazendo nos porões dos navios as máquinas que iriam dar origem a Imprensa Régia, fazendo surgir o primeiro jornal impresso em território brasileiro. A Gazeta do Rio de Janeiro foi fundada em 10 de dezembro de 1808 e publicava documentos oficiais e notícias de interesse da Corte, com linguagem bem parecida com os atuais diários oficiais.

Nos anos seguintes foram surgindo outros periódicos, mas com linguagens marcadamente agitadoras, que partiam especialmente de Cipriano Barata e Frei Caneca. Desses, predominou o jornalismo panfletário da imprensa que sobreviveu até metade do século XIX. Gontijo (idem, p. 285) assegura que De início, os jornais demonstravam ter alguma consciência de que parte da missão era educar o povo. No entanto, durante esse período turbulento, o que se viu foi uma disputa radical, que fez surgir estilos vigorosos e originais de redação jornalística, embora, muitas vezes, descambassem para acusações infundadas e ataques pessoais.


Por João Batista Perles

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